"50 anos a mil", por Lobão com Claudio Tognolli

segunda-feira, agosto 01, 2011 Sidney Puterman


A biografia de um sujeito não deve ser comentada por quem não gosta muito dele. Mas é justo o caso, aqui. Achei o texto prolixo; egocêntrico; entediante. O livro se constitui de dois elementos - reminiscências, detalhadas e banais, e toneladas de firulas frasais, significando... nada. Um festival de irrelevâncias. Sobretudo, auto-laudatório. Confesso: 90% dessa obra cabotina li na academia. Entre supinos, crucifixos e abdominais. Em meio às séries. Foi melhor assim, pra quebrar a monotonia. Puxava o peso, um, dois (...) sete, oito. Um minuto de descanso, enquanto lia três parágrafos. Colegas me perguntavam: "o livro é bom?". Não menti pra ninguém, exceto um ou outro. Teve um dia em que me animei, elogiei timidamente: é que o livro deu uma melhorada entre as páginas 301 e 303, foi masomeno até a 330, e eu me empolguei.  O problema é que as outras 560 páginas foram péssimas. Pra deixar tudo mais maçante, o músico criou blocos entre os capítulos, denominados "Lobão na mídia", em fonte miudinha, transcrevendo aborrecidamente os suplementos culturais dos jornais de Rio e São Paulo – um clipping pessoal, parágrafos elogiando-o ou avacalhando-o, mas selecionados de forma que ele parecesse genial, maldito e perseguido. Orgulhoso da obra, reproduz letras das próprias composições - o que não depõe a seu favor. Se dedica a entregar amigos já mortos, a quem corneou, e a dedurar alguns ainda vivos, que o ajudaram. Fala de gente que comeu. A descrição da surra que deu no pai, quebrando o violão na cabeça do progenitor e chutando-o escada abaixo, é desconfortável; bem como as insinuações do interesse sexual da mãe por ele mesmo, Lobão. Os pais se suicidaram, e o próprio autor revela tê-lo tentado algumas vezes (sem sucesso, como boa parte da sua carreira). Lobão é um sujeito inteligente. Tem percepção aguda, é culto e sabe ler as intenções ao seu redor. Isso é bom. Mas reflexões e inconfidências interessantes são, ao fim, apenas breve passagem em um livro comprometido com a defesa de uma tese – a de um Lobão maior do que aquele que podemos constatar. Não sei a quantos ele convenceu com seu minucioso testemunho. Vejo na internet que há quem tenha gostado do livro. Eu não. Achei aborrecido. 

Nova Fronteira, 593 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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