"Fordlândia", por Greg Grandin
Henry Ford é o espectro por trás do texto e do vilarejo amazônico. Um homem que dividiu sua vida em duas metades: na primeira, revolucionou o século XX - pois, com o acesso ao transporte individual, as cidades e a própria sociedade já não eram mais como antes. Na segunda metade, um milionário excêntrico, utópico, melancólico, preso a um passado remoto e que procurava reconstruir o mundo à sua imagem – ou o que ele acreditava fosse ela. Assim, contraditória, deslocada no tempo e no espaço, a Fordlândia foi o exemplo de tudo o que não deveria ser feito: um fracasso como atividade produtiva; como referência pioneira e colonizadora; como centro de pesquisa; e como núcleo urbano. Acompanhamos no bom texto de Greg a transferência dos objetivos iniciais da Fordlândia para uma outra cidadela, Belterra, o que possibilitou que alguns dos insucessos anteriores fossem corrigidos. Era, porém, tarde demais. Os anos e a guerra fizeram com que Ford perdesse o bonde da história. Os U$ 20 milhões que foram investidos na floresta se reduziram aos simbólicos U$ 250 mil pelos quais foi vendida ao Brasil, 17 anos depois (montante direcionado às dívidas trabalhistas). As peripécias dos ianques na selva nos são didáticas – ainda mais quando o autor nos confirma o que já sabemos sobre o nosso país: a corrupção do poder e o arrasamento da floresta. Oitenta anos depois, a caixa dágua da Fordlândia permanece lá. Nossos males permanecem aqui. Frustrante conclusão.
Editora Rocco, 399 pgs
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