"Tim Maia", por Nelson Motta

domingo, dezembro 28, 2014 Sidney Puterman

Nelson Motta está na moda. Fez 70 anos, com jeitinho de 48. E escrevendo cada dia melhor. Um sujeito raro. Tim Maia, seu biografado, também está na moda. E esse Tim que bomba agora deve muito ao Nelson - ainda que o Tim seja o gênio e o "Nelsomota" apenas o seu biógrafo. O incontestável é que Tim Maia foi o grande astro da música popular brasileira em 2014. E, ainda melhor, não faltou a nenhum show. Dando vida e presença ao cantor, seus intérpretes - no teatro e no cinema -, Tiago Abravanel, Robson Nunes e Babu Santana, mandaram muito; e o primeiro ainda mudou a carreira de patamar. Mas a estrela, mesmo, é o Sebastião Maia, o gordinho da Tijuca, o entregador de marmita. O Tim. Confesso que não assisti a peça. Não vi o filme. Mas, em compensação, li o livro (há 5 anos atrás) e escutei muito o Tim cantar na vitrola da Tia Delorme, nos anos 70. Eu tive uma tia que era absolutamente apaixonada pelo Tim Maia. Pelo vozeirão. Pelo suíngue. Eu também gostava. Adorava "Azul da cor do mar". Caminhei muitas vezes solitário, pela arrebentação, cantarolando a música, que me enchia de uma melancolia mais profunda que a minha idade. No livro, porém, descobri como a canção foi composta. Com menos glamour. Com um preto gordo (o próprio Tim) estatelado numa cama emprestada, tocando punheta pruma gostosa de bíquini, mera figurante num poster de turismo pregado na parede. Aí perdi um pouco de empolgação com a música. Mas confesso que ainda gosto. O fato, porém, é que passei a ouvir 10 vezes mais Tim Maia depois que li o livro. E vi que ele era pelo menos 10 vezes melhor do que eu sempre pensara. Entre os riffs da sua composição "Universo em Desencanto", período religioso-messiânico que o compositor atravessou, ele, na faixa "Imunização Racional", pedia que o público comprasse o livro do beato que ele seguia. Eu endosso. Não o beato; a sugestão da compra do livro. Esse, escrito pelo Nelsinho. Aproveite e veja essa semana os episódios sobre o Tim na Globo: vão rolar nessa quinta e sexta. Mas não deixe de ler o livro. Ao longo das suas páginas e das suas excepcionais composições (ainda mais se colocar o gordinho pra tocar no iPod), você constata que Tim foi um fenômeno. Não é à toa que, dezesseis anos após sua partida, só dá ele. Caetano fez uma música dizendo que "a bossa nova é foda". É. Pode ser. Mas o Tim também é.

Editora Objetiva, 392 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

3 comentários:

  1. Adorei o livro, adorei o post.

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  2. Concordo! Ler o livro para mim foi essencial, porque eu não entendia como um brasileiro da Tijuca tinha um swing tão americano... Só lendo, para saber que o Tim não só viveu nos EUA, como também esteve preso lá. Ou seja, não foi por falta de escola este canto suingado dele uashuashuash

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  3. Na decada de sessenta havia um louco que , na noite, nos bares da orla, no final do posto 6 (no Imperator), subia nas mesas e cantava a plenos pulmões, suas músicas. Esse louco era o nosso Tim...
    Seu relato me comoveu, ele era tudo isso, pena que o mérito lhe tenha vindo pós morte.

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