"Fuga do Campo 14", por Blaine Harden

quinta-feira, maio 30, 2013 Sidney Puterman

Eu via na TV o gordinho coreano. O balofo parecia o bolha clichê de enlatado americano. Via o presuntinho da Coréia fingindo que olhava no binóculo. Via o bolão fingindo que orientava generais saídos de uma escolinha do Professor Raimundo. Eu pensava: isso é uma imitação do “Borat”, só que sem o Sacha. É isso: a Coréia do Norte parece uma pegadinha de araque no SBT. Noutros momentos do humorístico, tínhamos dezenas de figurantes canastrões coreanos chorando lágrimas de esguicho pela morte do ditador pai do gordinho. Era claro que eles estavam gozando alguém. De repente o João Kleber ia surgir e dizer que era um teste de fidelidade. Noticiários nacionalistas com asiáticos recortados em chroma key me levavam para a Tóquio do National Kid e dos incas venusianos. Uau. Viajante. Tudo, porém, se acabou no instante em que comprei o livro indicado pela Cora Ronái (que já me meteu em uma fria antes) e conheci a verdadeira North Korea. Não era a Búlgária de Campos de Carvalho, era uma ilha medieval repleta de arame farpado, bombas, torturadores e estupradores de pau pequeno, sem luz elétrica nem comida. Um subterrâneo astral onde seres humanos buscam ascender à condição de vermes. Eu descobri a Escravoréia do Norte e seu povo comedor de ratos. A Curéia como exemplificação máxima de para onde o Comunismo é capaz de nos levar: ao ápice da decrepitude. Ao nirvana da obsolescência. O livro conta a história de Shin, um menino escravo que cresceu em um campo de trabalhos forçados e achava normal ver seus colegas de 6 anos serem assassinados a pauladas pelos “professores” porque comeram um grão de milho catado na bosta da vaca. Um menino que cagoetou a própria mãe e a viu morrer enforcada por isso - sem remorsos. Um menino que nasceu no inferno e beijava a mão do único ente que conhecia, o diabo. Desgosto. Mas o livro vale a pena. Nele você constata quão baixo o ser humano pode descer - e pode complementar a leitura com o jornal da última semana de abril, que traz a carta aberta do Partido Comunista do Brasil parabenizando a Coréia do Norte. No texto, o glorioso PC do B lamenta o ataque imperialista ao pobre governo norte-coreano.  Ianques sujos. Escória capitalista. Enquanto isso, o Brasil vai. Vai aprimorando sua ignorância abissal.

Intrínseca, 230 páginas.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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