"Diário de um skinhead", por Antonio Salas

segunda-feira, outubro 31, 2011 Sidney Puterman

O movimento neonazista na Espanha – o ambiente onde o autor corajosamente se infiltra – tem características locais bastante diferentes das nossas. Não somente por conta do ódio racial (que aqui é um pastiche, com desajustados mimetizando rituais que não entendem e copiando uma intolerância étnica que é contraditória com o espelho do próprio banheiro), mas também pelo caldo de xenofobia, idolatria teutônica, música e futebol que não encontram no nosso país tropical ingredientes compatíveis. O autor é audaz e minucioso, ambos - mais esse último - em excesso: o detalhismo enciclopédico com que ele desdobra as influências culturais que incidem sobre cada grupo de cabeças raspadas, os pormenores pessoais e as muitas referências (relevantes na Espanha, mas pouco pertinentes para estrangeiros, principalmente não-europeus) tornam a leitura arrastada, tirando do livro o timing que o faria bom ou mais. A obra, entretanto, tem seus momentos e deve ser respeitada pelo mergulho destemido de Salas em um lago turvo e perigoso - porque, ainda que me tenha sido enfadonha, centenas de carecas fanáticos espanhóis soletraram suas páginas, sem muito juízo estético ou literário, odiaram o livro e até hoje perseguem seu autor. Nas tavernas neonazis de Madri um slogan de lançamento tipo “leia o livro e cace o escritor" teria sido bem pertinente. A rotina de Salas hoje é como se enquadrado em um programa de proteção às testemunhas. Caricata e demodèe, a Europa, La Vecchia Signora, não aprende.

Editora  Planeta, 276 pgs

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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