"Negritude e genialidade", por Hermínio Miranda

quinta-feira, setembro 21, 2017 Sidney Puterman

A biografia de George W. Carver, um norte-americano filho de escravos que nas primeiras décadas do século passado se revelou um cientista inovador, é contada por Hermínio de forma contida, quanto aos fatos, e excessiva, quanto aos adjetivos. Não duvido que o celebrado autor tenha tido suas razões. A história de Carver, porém, já era suficientemente impressionante sem que o biografado fosse santificado. A forma idealizada com que Carver é apresentado remete mais a um livro para crianças, dado o simplismo, do que a uma obra "adulta". Em capítulos curtos, Miranda registra a infância difícil do órfão negro em um Sul racista. Seu empreendedorismo natural e sua peregrinação de cidade em cidade, encontrando sempre uma boa alma que reconhecesse o seu talento e lhe desse suporte, é uma constante. Findo os estudos - o que já era uma proeza admirável para um jovem pobre e da cor errada -, sua fase de cientista e inventor registra dedicação apaixonada à cultura do amendoim e abnegados esforços para a aplicação mercadológica de suas centenas de inventos (aparentemente, a maioria das criações de Carver não se mostrou economicamente viável). Hermínio enfatiza a reverência dos grandes nomes da época para projetar o tamanho de Carver, incluindo entre eles um simpatizante do nazismo, Henry Ford, como um dos fãs de carteirinha do cientista negro. A hagiologia é tal que não me soa verossímil. Curioso que sou, gostaria de um relato menos entusiasmado para entender a verdadeira dimensão do gênio.

Editora Heresis, 221 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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