"Os Magnatas", por Charles R. Morris

quarta-feira, junho 01, 2016 Sidney Puterman

Hoje, no Brasil, vivemos numa barafunda semântica e conceitual. Nada pode significar nada e tudo, ao mesmo tempo, dependendo de quem for o emissor da sentença. É o relativismo elevado à sua força máxima. Me cai bem olhar para regiões onde a desprezada (no discurso) e desejada (no íntimo) moeda sonante é tratada com mais respeito e produzida com mais assiduidade. Quem comunga da mesma crença que eu vai se deliciar com o buffet rodízio servido por Morris. Ele conta o nascimento da supereconomia norte-americana do século XIX, tendo por cavalo de batalha a trajetória de 4 bilionários: Andrew Carnegie, Jay Gould, John Rockefeller e J.P.Morgan (todos curiosamente nascidos no curto intervalo de quatro anos, de 1835 a 1839). O primeiro deles enriqueceu com o aço; o segundo com as ferrovias; o terceiro com o petróleo; o quarto tomou conta do dinheiro dos 3 primeiros e do de mais alguns milhares de prósperos americanos. A biografia destes 4 cavaleiros da Fortuna, nem sempre muito éticos, conta como os Estados Unidos, apenas 1 século após a sua independência (episódio cujas entranhas foram minuciosamente dissecadas por Barbara Tuchman, em "A Marcha da insensatez"), tomou para si o bastão do protagonismo econômico e assumiu seu novo status no teatro mundial das nações. Seus avanços tecnológicos (em uma época onde o ápice da performance tecnológica era a implantação de uma linha de montagem) se tornaram novo paradigma da indústria e levaram a ex-colônia a suplantar a pátria-mãe. Olhando aqui da Guanabara a dinâmica das relações produtivas nos EUA, as percebo suficientes para nos matar de vergonha, se a tivermos na cara. A riqueza norte-americana denuncia o quanto diariamente desperdiçamos o Brasil. "É a economia, estúpido", teria dito James Carville, assessor de Bill Clinton na campanha presidencial de 1992. A mesma frase é reveladora no que tange aos tempos recentes e ao ponto a que chegamos. Na direção oposta ao que preconizam autores como o sociólogo polonês Zygmunt Bauman ("A Riqueza de poucos beneficia todos nós?") e o economista francês Thomas Piketty ("O Capital no século XXI), Morris nos oferece a receita de como o capitalismo de alto rendimento é capaz de produzir riqueza, conforto e amor verdadeiro. Há quem, num laivo de desfaçatez, diga que o desenvolvimento econômico não é a solução de todos os problemas. Mas que esquizofrênico quer resolvê-los todos?

L&PM Editores, 388 páginas

Obs.: Nas quase 400 páginas do livro, o nome "Brasil", contraponto sul-americano (em idade e extensão) à América do Norte, aparece... zero vezes. Conclua você mesmo.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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