"Napoleão", por André Maurois

quinta-feira, junho 18, 2015 Sidney Puterman

Em homenagem ao pequeno grande corso - cuja colossal derrota é comemorada hoje, quando se completam 200 anos da sua batalha definitiva -, me pareceu que a obra sobre o aclamado gênio militar seria uma escolha acertada. Eu tinha lido maravilhas sobre essa biografia de Napoleão! Porém... não era aquilo tudo. Aliás, nem tudo, nem meio tudo: achei a bio bem rastaquera. Talvez retrate um jeito mais antigo de biografar, mais opinativo do que investigativo. Mais superficial do que profundo. Não sei. Mas nada no livrinho me empolgou. Olha que levei o dito cujo à França; se ia a Paris, por que não levá-lo comigo? O li, inclusive, nas celas do Castelo de Vincennes, onde tantos foram trancafiados até a morte (sob ordens de Napoleão, o Duque d'Enghien foi fuzilado no fosso do palácio, em 1804, por suspeição, jamais provada, de tramar contra o governo). Não sei se D'Enghien merecia a morte, mas sei agora que o livro não merecia a viagem. E, inegável, a bela capa não condiz com o projeto gráfico - ou a ausência dele - do miolo. Justificando a denominação de "biografia ilustrada", a obra reproduz dezenas de pinturas que retratam as diferentes fases do Imperador. São quase todas as ilustrações, porém, uma encardida frustração. Telas carregadas de cores escuras, submetidas à impressão sem qualidade e em preto e branco da Globo Livros, são borrões mal diagramados e fazem de cada página um cartazete de escola primária (e sem valor de registro, pois apresentam a versão mistificada dos eventos, produzida por puxa-saquismo ou encomenda). O texto de Maurois é bom. O que não é bom é o parco conteúdo e o excesso de volteios que o livro carrega, como abusar das frases em forma de pergunta, para que ele próprio as responda (recurso que, penso, exige parcimônia). Sua obra é mais uma crônica política, girando em torno de Napoleão e do cenário pós-Revolução Francesa, do que aquilo que hoje entendemos por biografia. Inexiste a reportagem, somente o ponto-de-vista - pretensioso - do autor, que se considera apto a julgar as atitudes do jovem imperador e seus significados. Não sei até onde Maurois o é, mas, ainda que o seja, não me encantou. Queria conhecer o corso que mudou o mapa do seu tempo e acompanhei, se muito, uma sintética descrição de turismo militar. Por fim, o que de melhor Maurois nos oferece são as citações espirituosas, enchendo de sabor a narrativa. Fora esse divertido tempero, falta a narrativa em si. Pensando bem, além da orelha, onde mais foi mesmo que eu li esse livro sendo elogiado, ehm?


Globo Livros, 150 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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