"Dever de capitão", por Richard Phillips

quinta-feira, julho 03, 2014 Sidney Puterman

Tenho meus métodos. Li nos jornais a crítica elogiando o filme e citando o livro. É perguntar se macaco quer banana. Filme bom, livro idem? É ler o segundo e conferir o primeiro. Coloquei logo na minha lista e comprei na primeira brecha. O prazer, entretanto, durou pouco. É um relato enjoativo. O livro, percebi - para meu desgosto -, foi escrito para figurar em vitrine de aeroporto e virar roteiro de filme. Banal. Eu até gostei bastante de saber os pormenores do pessoal da marinha mercante, que me trouxe saudades do meu sogro comandante. Bacana. Com isso, as primeiras 100 páginas desceram bem. Depois, virou uma molengação com um nadinha de conteúdo e muito rame-rame valorizando a família do capitão, que emulava o típico clichê da família americana dos anos 90. Os capítulos finais deram uma aquecida, mas com uma descrição manca, onde só se tinha o discurso capenga do personagem-título, que não sabia o que se passava fora do seu barquinho e não adicionou ao livro a intensa movimentação dos militares ao redor. A opção do autor/ghost-writer foi narrar apenas o que via; mas, se queria dar ao leitor somente a visão (ou falta dela) de Phillips, não procedeu assim ao descrever o cotidiano familiar, enumerando cada passo da esposa, dos vizinhos e da mídia. Dessa maneira, há omissões importantes como a do líder somali que simplesmente foi abduzido da história ao embarcar no navio ianque. Outra lenga-lenga difícil de engolir foram as declarações de preocupação e responsabilidade do capitão em relação à sua tripulação - de um exagero baboso e demagogo de político em campanha. Se ele acha que qualquer um engole aquela xaropada, é um sem-noção. Engraçado mesmo é que, depois que terminei o livro, fiz, como comumente faço, uma busca na internet para saber mais dos personagens - e o que descobri foi que a tripulação renega e desanca o capitão, chamando-o de irresponsável, insuportável e de um absoluto mentiroso, o que faz muito mais sentido do que o líder heróico que Phillips diz ter sido. Então, no fim, é inevitável o mal estar de quem foi enganado. O texto é indigente, a história é mal contada e no final era tudo mentira. Vai ler?

Intrínseca, 254 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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