"Além da conquista", por Scott Wallace

quarta-feira, agosto 27, 2014 Sidney Puterman

Livraço. Pelo equilíbrio. Pela honestidade. Pela ausência do espetaculoso, ainda que diante do maior espetáculo - o da natureza, o da civilização e o da inexistência dela. A história da que talvez tenha sido a derradeira expedição em busca do último grupo indígena isolado da Amazônia (quiçá do planeta) é descrita com sobriedade por um autor que é simultaneamente um alienígena (branco, cinquentão, estrangeiro, cegueta, inábil) e um especialista (correspondente experiente de diversas guerras em continentes remotos, integrante de inúmeras expedições à floresta, observador tarimbado). Há um personagem central: Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai e sertanista renomado. Há uma aventura na selva a registrar: a "entrada" que durou 90 dias, composta pela travessia de rios e mata virgem, e de fome, controvérsia e perigos. Scott Wallace conta a furiosa, mal-humorada e sublime determinação de Possuelo em proteger o índio. Narra a arriscada procura dos sinais demarcatórios da área de circulação do nômade Povo da Flecha, índios bravos que até o início do século 21 vinham resistindo ao contato com o homem branco. Revela a ocupação grileira, os traficantes de drogas, os ladrões de madeira, os exploradores de ouro que contaminam os rios, matam a fauna e - perversamente - exterminam os nativos. O jornalista americano contou para mim, brasileiro, o que acontece nessa terra de ninguém que pertence ao meu país. Não há como permanecer o mesmo.

Editora Objetiva, 468 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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