"Indefensável", por Leslie Leitão, Paula Sarapu e Paulo Carvalho

sábado, julho 26, 2014 Sidney Puterman

Só no epílogo é que fui entender porque o livro era tão bom: os três autores foram repórteres que, em estágios diferentes da vida da vítima, do mandante e do bando, se envolveram com o assunto. Mais do que uma ordenação a posteriori dos fatos e de um entendimento retrospectivo do caráter dos personagens, eles foram testemunhas - não do assassinato, mas do interminável fluxo de versões vomitadas antes, durante e depois da morte da mãe de Bruninho, pivô involuntário da trama. Esse situação atípica permitiu a construção de uma narrativa justa e tensa, raramente encontrada no jornalismo investigativo brasileiro, mais afeito à forma do que ao conteúdo. Eliza, Bruno, Macarrão, Bola e todos os demais envolvidos nesse enredo sórdido são apresentados ao leitor, cada um a seu tempo, desenhando a repulsiva historia de um crime idiota, cometido por razões cretinas e executado de forma imbecil. Era um tal número de coadjuvantes enrascados no roteiro da morte, que era impossível a manutenção do sigilo - gerando dedo-duros, uma matança em efeito dominó e fazendo com que a onda escabrosa perpetrada pelo goleiro que gostava de um randevu e de bater em mulher ("Quem nunca deu umas porradas na mulher?", perguntou, zombeteiro, o goleirão do Flamengo, em uma coletiva de imprensa semanas antes do crime) repercutisse muito além do instante em que ele foi recolhido ao xilindró. Investigação feita, criminosos presos, julgados e condenados, ainda assim a ignomínia do crime permanece provocando desdobramentos e mobilizando a mídia. Nessa última quinta-feira, dia 24, a Super Rádio Tupi obteve do cúmplice e primo do goleiro, Jorge, a informação de onde Eliza havia sido enterrada. Depois de um dia e uma noite de escavação, debaixo de uma chuva constante e sob o olhar atento de veículos de comunicação de todo o país, a polícia de Minas não encontrou nada. Talvez nada houvesse ali, mesmo. Os personagens desse caso se movem em zigue-zague e sem a menor coerência, filhos da ignorância e de uma atávica compulsão pelo cinismo. Sugiro à polícia a leitura do livro. Vai descobrir que, nesse festival de mentiras, não tem inocente. Nem a pobre da vítima.

Record, 265 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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