"D. Pedro I", por Isabel Lustosa

sábado, outubro 01, 2011 Sidney Puterman

Nesse mês de setembro completou-se 189 anos da Independência do Brasil. E também nele, há exatos 177 anos e 7 dias, morria em Portugal D. Pedro I, o filho da espanhola, o príncipe que foi o principal personagem daquela data histórica. Um ícone da brasilidade, um fauno contraditório, impulsivo, canalha – que, antes dos maus feitos recentes de presidentes, milicianos e facções, soube sobretudo ser amigo dos amigos (cercou-se no poder de seus companheiros de farra). É tido hoje um “herói sem nenhum caráter”. Não creio chegue a tanto; porém, se formos a listar os defeitos do nosso primeiro imperador, é conversa pra muitas canecas do bom vinho português. Se seguirmos, entretanto, as suas pegadas, nos depararemos com um ator de presença crucial na história do país. Quiçá o mais determinante deles. É justamente ao nos permitir o acompanhamento de um período fundamental  para o Brasil que o livro diz a que veio. Os anos que antecederam e os que sucederam o episódio da Independência foram de enorme ebulição – e cujo rumo teve por matriz as decisões do Imperador. Se algoz covarde da Imperatriz Leopoldina, a quem mandou buscar além-mar para desposar, humilhar e, indiretamente (?), matar, foi, com o suporte dessa última, o artífice do rompimento dos laços com Portugal, com quem viveu um constante caso de amor e ódio, de reverência e insubordinação. A obra de Isabel Lustosa se detém talvez demasiado na crônica do adultério da Alteza Imperial com a Marquesa de Santos; mas o destrinchamento das pressões e da barafunda em que se tornou a política nacional naquele momento são de enorme valia para o entendimento do processo de separação do Reino e a formação do Império. Lustosa vai além, ao nos conduzir pela pouco conhecida história de sua atuação européia, onde o Príncipe foi lutar, já como Pedro IV, contra o mano Miguel (meio-irmão?) e a mãezinha Carlota Joaquina. Sua performance, heróica e lendária, ao liderar no meio da massa suas tropas para a vitória no Porto, valeu-lhe o epíteto de "O Rei Soldado". Morreu em seguida. Jovem, aos 36 anos. Nessa sua passagem fugaz pela face da terra, deixou sua filha reinando em Portugal e seu filho reinando no Brasil. E, para nós, deixou de legado - literalmente - um País; uma "nação-continente", à qual ele assegurou independência política e unidade territorial. Esse Brasil que Pedro I nos deixou foi um gigante com problemas de crescimento, atrofias, distrofias e lesões diversas. Por meio da sua biografia, conhecemos parte da adolescência do país, nos possibilitando entendê-lo melhor. E aceitá-lo um pouco mais.

Companhia das Letras, 331 páginas


Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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